Também é descrito pelo mesmo memorialista a importância que a localidade de Pirajá possuía neste período para o abastecimento da cidade, em virtude da abundância de peixes e mariscos, ao qual formavam grupos de pescadores que sobrevivem desta atividade. A abundância de peixes vai justifica o nome do rio e do local, pois, segundo a etimologia tupi a palavra Pirajá significa “o que está repleto de peixes” (NAVARRO, 2013).
Além da atividade de pesca presente no rio Pirajá, uma atividade comum no período de estudo na localidade era a pesca de baleias, onde no período de chegada das mesmas a Bahia de Todos os Santos, os moradores e donos de engenho se mobilizaram para a dita atividade com o objetivo de extração do óleo para a iluminação pública da cidade e iluminação dos engenhos, além da carne servir de alimento para os escravizados (OTT, 1996).
No século XVIII, em uma descrição da freguesia de São Bartolomeu de Pirajá feita pelo vigário Francisco Baptista da Silva, atendendo ao pedido do Marquez de Pombal no ano de 1757, fica evidenciado o crescimento e o desenvolvimento, ao longo dos anos, alcançado pela freguesia. Além de descrever as localidades habitadas e os povoados dentro da área da freguesia, que tinha como centro o atual bairro de Pirajá, um dado importante é que o vigário não pontua em sua descrição a existência de engenhos da localidade.
“[...] Não tem em si lugares povoados mais que sinco logarejos com meya duzia de fogos cada hum que sam: Bananeyras, Crux de Pirajá¹, [...] Fragoso, [...] Itabaranha², Praya Grande [...], as mais pessoas morão em seos sítios disperços com as denominações seguintes: Sam Caetano, Ilha de Lucas Pinto, sitio de Maria Thereza, sitio de Manoel Germano, sitio do Capitão Manoel dos Santos Dias, sitio da freguesia de Ilha de Joam de Souza, S. Joam Passage, sitio do Capitão Mór José Pires, S. Braz, Nossa Senhora da Escada, Campos de Lamarão, Jaquaira, Quiaya, S. Braz velho, Cachoeira, Cangurungu, Guiga, Estrada Geral do Sertam para a cidade³, Terra Nova, sitio da Conceição, Pedras Pretas⁴, Buraco do Tatú⁵, Mangueiras, Terras de S. Bento, Pituassu, Barreyras, Cajazeiras, Dendezeiro, Campina, Camorogippe [...]. Tem 900 pessoas de comunham. (ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, v.31,1913)
É importante destacar que muitas destas localidades descritas foram inicialmente fazendas e com as mudanças de configuração espacial da cidade, as mesmas passaram a dar nome aos bairros de Salvador como os atuais bairros de São Caetano, Itacaranha, Praia Grande, Escada, Pituaçu, Cajazeiras e Campinas de Pirajá, dentre outros situados em outras áreas.
Outra documentação que vai demonstrar também o desenvolvimento e o crescimento populacional da freguesia de São Bartolomeu de Pirajá, é o Registro Eclesiástico de terra do século XIX. Além das localidades descritas no registro do século anterior, são documentadas outras fazendas como a fazenda Águas Claras, Periperi, Portão, Boa Vista, Bate Folha, além do engenho Plataforma e S. João, e uma fábrica de cobre na localidade do Cabrito.
Ao todo são registrados aproximadamente 32 sítios povoados. Apesar da ausência de engenhos nessas duas fontes oficiais, outros tipos de fontes apresentam engenhos na localidade no mesmo período, como por exemplo no livro de notas que demonstram a existência de três engenhos na localidade: o Engenho Conceição, um Engenho localizado no Largo do Tanque e o Engenho Pedra Preta.
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¹ Lugar onde está edificada a atual igreja de Pirajá.
² Ler-se “Itacaranha”, atual bairro do subúrbio de Salvador.
³ Atual Estrada de Campinas, foi a primeira estrada que ligava o recôncavo a cidade, antes da construção da BR-324.
⁴ Segundo a oralidade, trata-se de parte da localidade do atual bairro de Castelo Branco.
⁵ Localidade onde havia instalado um quilombo, de mesmo nome, durante o século XVIII e delimita-se da região entre o atual bairro de Campinas de Pirajá e a vila de Santo Amaro de Ipitanga, região entre o atual bairro de Itapoá e o município de Lauro de Freitas. (SANTANA, 2005)